Nuno Rosado, cofundador e CEO da TechOf, foi um dos oradores no mais recente webinar da Wawiwa, realizado a 29 de outubro de 2024. “Bridging the Tech Skills Gap in Europe: How Reskilling Can Address the IT Talent Shortage” teve como objetivo explorar a escassez de competências tecnológicas na Europa, analisar as suas causas, os papéis mais procurados e como o reskilling pode responder à escassez de talento em TI.
O webinar, que contou igualmente com a participação de Eran Lasser, fundador e CEO da Wawiwa Tech, como orador, abordou o impacto das tecnologias emergentes, incluindo a IA Generativa, na evolução das necessidades de competências. Os oradores debateram, ainda, sobre quem deve assumir a responsabilidade de reduzir a lacuna de competências no setor tecnológico, destacando o papel crucial das empresas, das instituições de ensino e dos governos nesta missão.
Compreender a Escassez de Competências Tecnológicas na Europa
Um dos desafios mais urgentes é a crescente falta de competências tecnológicas na Europa. A Comissão Europeia prevê que, até 2030, sejam necessários 20 milhões de profissionais de tecnologia para responder às exigências digitais da economia europeia. Contudo, estima-se que apenas 12 milhões estarão a trabalhar neste setor nessa altura, resultando numa lacuna de 8 milhões de profissionais.
Esta escassez deve-se, em grande medida, ao rápido avanço da transformação digital nos vários setores, que tem intensificado a procura por profissionais de tecnologia. Porém, poucos jovens optam por carreiras em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), reduzindo o número de novos talentos disponíveis. Além disso, os cursos académicos tradicionais, que demoram anos a concluir, frequentemente não conseguem acompanhar o ritmo das exigências do setor, criando uma desfasagem entre o momento em que os alunos se formam e as competências exigidas pelo mercado. Em países como Portugal, esta realidade gera dificuldades de recrutamento, levando as empresas a procurar talentos internacionais face à escassez de profissionais locais.
Os requisitos para as funções tecnológicas e as abordagens de formação variam entre os países europeus. Nos países mais desenvolvidos, muitas funções ainda exigem diplomas académicos, embora haja uma transição gradual para a valorização de competências práticas. Nos países em desenvolvimento, muitos tornaram-se polos de outsourcing de trabalho tecnológico, com um foco maior na adaptabilidade. Países como o Reino Unido e a Alemanha integram programas de aprendizagem que combinam formação académica com experiência prática, preparando os alunos com competências relevantes e alinhadas com as necessidades do mercado.
Reskilling: A Solução para a Escassez de Talento Tecnológico
Nuno Rosado e Eran Lasser apontaram o reskilling como uma estratégia fundamental para enfrentar a escassez de talento em TI. Estes programas permitem que pessoas sem experiência prévia em tecnologia adquiram competências essenciais em áreas como desenvolvimento de software, análise de dados e cibersegurança em apenas seis a doze meses. Este tipo de formação prática e acelerada é extremamente valiosa num setor onde as novas competências são continuamente requisitadas, proporcionando uma oportunidade de carreira e contribuindo para a criação de uma força de trabalho adaptável ao cenário tecnológico em constante evolução.
A procura por profissionais de tecnologia abrange diversas especializações, com a Inteligência Artificial (IA) a liderar em popularidade. Seguem-se as áreas de operações de TI, desenvolvimento de software e computação na cloud, todas cruciais para apoiar a transformação digital. Analistas e Cientistas de Dados também são bastante procurados, uma vez que as organizações dão prioridade a decisões baseadas em dados. A cibersegurança, essencial devido ao aumento das ameaças, e linguagens de programação como Python, juntamente com competências em machine learning, refletem a crescente integração da IA e da ciência de dados nos diversos setores.
Quem Deve Enfrentar a Escassez de Competências Tecnológicas na Europa?
A responsabilidade de colmatar a lacuna de competências tecnológicas na Europa deve ser partilhada entre governos, empresas e instituições de ensino. Os governos têm um papel fundamental ao incentivar e investir em iniciativas de reskilling e upskilling, tornando a formação tecnológica acessível a um maior número de pessoas. Muitos governos europeus subsidiam as propinas de programas tecnológicos e oferecem incentivos salariais para profissionais juniores, tornando mais atrativo para as empresas contratar e formar trabalhadores com menos experiência. Estas medidas são essenciais para preparar uma força de trabalho adaptada às exigências tecnológicas.
As empresas também têm um grande interesse em solucionar esta escassez, uma vez que afeta diretamente a sua competitividade. Muitas estão a investir em programas de formação interna ou a estabelecer parcerias com entidades de ensino tecnológico, de forma a desenvolver as competências necessárias dentro da própria organização. Este investimento permite preencher funções críticas, reduzir custos de recrutamento e formar uma força de trabalho mais preparada para enfrentar os desafios futuros.
As universidades, tradicionalmente responsáveis pela formação de talento, desempenham um papel crucial na formação da futura força de trabalho. À medida que cresce a procura por competências práticas e atualizadas, as universidades estão a adaptar-se, combinando os conhecimentos académicos com formação prática em ferramentas como o ChatGPT e o Midjourney. Esta colaboração entre a educação superior e a indústria aponta para um futuro em que os graduados saem preparados para atender às necessidades imediatas do setor tecnológico.