Em Portugal, estamos a passar por um momento particularmente difícil no que diz respeito ao recrutamento. A taxa de desemprego está mais baixa e há hoje uma oferta de emprego mais variada do que existia antes, mesmo que não estejamos a falar de trabalhos sustentáveis ou que estes não configurem soluções de carreiras ou salários ambiciosos, com progressão para a vida das pessoas.
O número de profissionais qualificados a abandonar o país continua a aumentar – e cada vez mais cedo – sendo que muitos saem ainda durante o percurso académico, como se trabalhar em Portugal já nem fosse sequer uma opção para começar a sua carreira.
Por outro lado, a evolução tecnológica e a necessidade de digitalizar as empresas, acelerada exponencialmente pela pandemia, requerem a contratação de profissionais com qualificações técnicas para as quais não existem sequer cursos superiores e, portanto, as empresas têm tido dificuldade em responder aos desafios do presente e a preparar o futuro, através de inovação.
Estamos a perder competitividade a uma velocidade galopante, com a agravante de o trabalho remoto permitir que muitos portugueses possam trabalhar para empresas estrangeiras, a partir de casa, tornando os salários das empresas portuguesas ainda menos atrativos para os poucos profissionais qualificados disponíveis. Como se isto não fosse suficiente, temos ainda a inflação, o valor das rendas e os preços das casas a afastar as pessoas das grandes cidades.
Neste contexto, a retenção de talento é cada vez mais importante e, para que isso aconteça, é fundamental que os líderes apostem na formação contínua das equipas. É cada vez maior a pressão na gestão das empresas, para que se aposte em soluções eficazes para qualificar ou mesmo requalificar o seu capital humano, com formações técnicas e rápidas que permitam acompanhar a velocidade da tecnologia e do mercado.
Por outro lado, é também importante encontrar novas soluções de recrutamento junto de profissionais de outras áreas, com experiências diversificadas, que estejam insatisfeitos com as suas carreiras e ambicionem requalificar-se para abraçar novos desafios e, simultaneamente, melhorarem as suas vidas profissionais e pessoais. Encontrar novas soluções de formação ágeis e eficazes, complementares ao nosso atual sistema de educação, pode revolucionar a forma como pensamos nas nossas carreiras e colaboramos nas empresas, com várias entidades empregadoras e dando espaço a novas sinergias profissionais.
Há muito tempo que sabemos que já não existem “empregos para a vida”, como antigamente. Pois se assim o é, faz todo o sentido pensar que também não há cursos que nos possam valer eternamente. Para sermos relevantes para o mercado – e permitirmos às empresas manterem-se competitivas num ambiente de aceleração digital e tecnológica – é importante procurarmos novas formas de adquirir as competências técnicas e as soft skills que se adaptem à oferta profissional, principalmente na área das novas tecnologias de informação e comunicação em que há cada vez mais necessidade de profissionais qualificados e uma grande escassez de candidatos preparados e disponíveis.
Artigo de opinião de Diogo Reis Pereira, Co-Founder & CMO da TechOf, publicado na VER – Valores, Ética e Responsabilidade